29 julho 2008

Férias


Após um ano de trabalho, estão a chegar as merecidas férias!!!

Os livros e os cadernos terão o merecido descanso e nós partiremos à procura de novas aventuras e descobertas.

Voltaremos em Setembro com energias renovadas e com novo animo.

Até lá!!!!


"Mesmo que não conheças nem o mês nem o lugar

caminha para o mar pelo verão"

Ruy Belo

28 julho 2008

Enredo

De uma forma resumida, o enredo é o seguinte: D. João de Portugal, um nobre muito respeitado na sociedade, desapareceu, em 1578, na batalha de Alcácer Quibir, por sinal a mesma na qual o rei D. Sebastião perdeu a vida. Contudo, a morte de D. João de Portugal nunca foi provada, passando-se exactamente o mesmo com D. Sebastião.
Entretanto, a mulher de D. João de Portugal, D. Madalena, esperou sete anos pelo marido, uma espera que se revelou infrutífera. Pese ter casado com D. João de Portugal, a meio da peça o leitor dá-se conta do facto de ela nunca o ter amado verdadeiramente.
D. João de Portugal – Casado com Madalena, mas desaparecido na batalha de Alcácer Quibir; austero; sentimento amoroso por Madalena; sonhador; crente (quando pensa, por momentos, que Madalena o ama).
1578 – Madalena casa com D. João. Madalena conhece M. de Sousa.
1578 / 1585 – Madalena procura assegurar-se da morte de D. João
1598 / 1599 (1 ano) – D. João é libertado dirige-se para Portugal
Agosto (3 dias) – D. João apressa-se para chegar
D. João regressa a Portugal disfarçado de romeiro.
D. João de Portugal: guerreiro honrado e generoso; parece ser cruel e vingativo, mas perdoa a esposa; pede a Telmo que salve D. Madalena e D. Manuel do triste fim que os aguardava.

Manuel de Sousa Coutinho


Segundo marido de Madalena;

pai de Maria;
teme que D. João possa regressar (ideia inconfessada);
que a saúde débil de sua filha progrida para uma doença grave;
decidido, patriota (incendeia o seu palácio porque este iria ser ocupado pelos governadores espanhóis;
sofre, sente remorsos ao pensar na cruel situação em que ficara a sua querida Maria; Amor paternal.

CLASSIFICAÇÃO DA OBRA


«Garrett disse na Memória ao Conservatório que o conteúdo do Frei Luís de Sousa tem todas as características de uma tragédia. No entanto, chama-lhe drama, por não obedecer à estrutura formal da tragédia:
Não é em verso, mas em prosa;
Não tem cinco actos;
Não respeita as unidades de tempo e de lugar;
Não tem assunto antigo.

Sendo assim, quase podemos dizer que é uma tragédia, quanto ao assunto. Na verdade,
1. O número de personagens é diminuto;
2. Madalenas, casando sem ter a certeza do seu estado livre, e Manuel de Sousa, incendiando o palácio, desafiam as prepotências divinas e humanas (a hibris);
3. Uma fatalidade (a desonra de uma família, equivalente à morte moral), que o assistente vislumbra logo na primeira cena, cai gradualmente (climax) sobre Madalena, atingindo todas as restantes personagens (pathos);
4. Contra essa fatalidade os protagonistas não podem lutar (se pudessem e assim conseguissem mudar o rumo dos acontecimentos, a peça seria um drama); limitam-se a aguardar, impotentes e cheios de ansiedade, o desfecho que se afigura cada vez mais pavoroso;
5. Há um reconhecimento: a identificação do Romeiro (a agnorisis);
6. Telmo, dizendo verdades duras à protagonista, e Frei Jorge, tendo sempre uma palavra de conforto, parecem o coro grego.
Mas, por outro lado, a peça está a transbordar de romantismo:
1. A crença no sebastianismo;
2. A crença no aparecimento dos mortos, em Telmo;
3. A crença em agouros, em dias aziagos, em superstições;
4. As visões de Maria, os seus sonhos, o seu idealismo patriótico;
5. O «titanismo» de Manuel de Sousa incendiando a casa só para que os Governadores do Reino a não utilizassem;
6. A atitude que Maria toma no final da peça ao insurgir-se contra a lei do matrimónio uno e indissolúvel, que força os pais à separação e lhos rouba.
Se a isto acrescentarmos certas características formais, como
7. O uso da prosa;
8. A divisão em três actos;
9. O estilo todo, do princípio ao fim, terá que concluir que é um drama romântico, com lances de tragédia apenas no conteúdo.»

Biografia Almeida Garrett


Nascido no Porto, a 4 de Fevereiro de 1799, João Baptista da Silva Leitão viria a falecer em Lisboa a 9 de Dezembro de 1854.
Os seus pais refugiaram-se em Angra, como consequência da invasão francesa de Soult, em 1809, onde o escritor recebeu a influência benéfica do seu tio paterno, o bispo D. Frei Alexandre da Sagrada Família, tendo recebido Ordens Menores e tendo mesmo, aos 15 anos, subido ao púlpito numa igreja da Graciosa, em substituição do pregador.
Matriculado em 1816 na Faculdade de Direito de Coimbra, em breve se dedica à actividade dramática num meio académico agitado pelas novas ideias, sobretudo políticas.
Concluído o curso, em 1821 (ano em que termina O Retrato de Vénus), vem para Lisboa, onde imediatamente acumula triunfos, no âmbito literário, com a representação de Catão (estreado a 29-11-1821), afectivos, com o fulgurante casamento com Luísa Midosi (de quem viria a separar-se em 1836), e políticos, inaugurados estes com a oração fúnebre a Manuel Fernandes Tomás.
Exilado como liberal em 1823, viveu em Inglaterra e em França até 1826.
No regresso a Portugal dirige os jornais O Português e O Cronista, mas conhece de novo o exílio de 1828 a 1832, voltando a Portugal, com os bravos do Mindelo.
De 1833 a 1836, é nomeado Encarregado de Negócios e Cônsul-Geral na Bélgica.
Passos Manuel, na chefia do Governo após a Revolução de Setembro de 1838, encarrega-o da restauração do teatro português, missão que leva a cabo criando, não só o Conservatório de Arte Dramática, mas igualmente a Inspecção-Geral dos Teatros e sobretudo o Teatro Nacional.
É nomeado Deputado em 1837, Cronista-Mor em 1838 e finalmente Par do Reino em 1851.
Em 1852, num Ministério presidido por Saldanha, foi encarregado, por alguns meses, da pasta dos Negócios Estrangeiros.
D. Pedro V agraciou-o, a 25 de Junho de 1854, meses antes da sua morte, com o título de Visconde de Almeida Garrett.

Bibliografia Almeida Garrett

Teatro
Dá início ao seu projecto de regeneração do teatro português, levando à cena em
1838 Um Auto de Gil Vicente, pouco antes Filipa de Vilhena e, em 1842, O Alfageme de Santarém, todas sobre temas da história de Portugal.
Em
1844 é publicada a sua obra-prima, Frei Luís de Sousa, que um crítico alemão, Otto Antscherl, considerou a "obra mais brilhante que o teatro romântico produziu". Estas peças marcam uma viragem na literatura portuguesa não só na selecção dos temas, que privilegiam a história nacional em vez da antiguidade clássica, como sobretudo na liberdade da acção e na naturalidade dos diálogos.

Prosa
Em
1843, Garrett publica o Romanceiro e o Cancioneiro Geral, colectâneas de poesias populares portuguesas, e em 1845 o primeiro volume d'O Arco de Santana (o segundo apareceria em 1850), romance histórico inspirado por Notre Dame de Paris de Victor Hugo. Esta obra seduz não só pela recriação do ambiente medieval do Porto, mas sobretudo pela qualidade da prosa, longe das convenções anteriores e muito mais próxima da linguagem falada.
A obra que se lhe seguiu deu expressão ainda mais vigorosa a estas tendências:
Viagens na minha terra, livro híbrido em que impressões de viagem, de arte, paisagens e costumes se entrelaçam com uma novela romântica sobre factos contemporâneos do autor e ocorridos na proximidade dos lugares descritos (outra inovação para a época, em que predominava o romance histórico). A naturalidade da narrativa disfarça a complexidade da estrutura desta obra, em que alternam e se entrecruzam situações discursivas, estilos, narradores e temas muito diversos.


Poesia
Na poesia, Garrett não foi menos inovador. As duas colectâneas publicadas na última fase da sua vida (Flores sem fruto, de
1844, e sobretudo Folhas caídas, de 1853) introduziram uma espontaneidade e uma simplicidade praticamente desconhecidas na poesia portuguesa anterior.
Ao lado de poemas de exaltada expressão pessoal surgem pequenas obras-primas de singeleza ímpar como «Pescador da barca bela», próximas da poesia popular quando não das cantigas medievais. A liberdade da
metrificação, o vocabulário corrente, o ritmo e a pontuação carregados de subjectividade são as principais marcas destas obras.
Tempo

A acção dramática de Frei Luis de Sousa acontece em 1599, durante o domínio filipino, 21 anos após a batalha de Alcácer-Quibir. Esta batalha aconteceu a 4 de Agosto de 1578.

- Período vasto de tempo (21 anos) mas a acção representada tem apenas uma semana;
- Batalha de Alcácer Quibir (1578) + 7 anos + 14 anos;
- Primeira sexta-feira (27 de Julho de 1599) + 8 dias Segunda sexta-feira (4 de Agosto de 1599) – HOJE (Acto II).

5 de Agosto (consequências do hoje) - madrugada
• Em cena têm apenas duas partes de dois dias;
• Tempo histórico (o desenrolar da acção está dependente da batalha).

Tempo da acção
• Ao afunilamento do espaço corresponde uma concentração do tempo dum dia especial da semana: 6ª feira;
• As principais cenas passam-se durante a noite.
Excertos retirados na obra:
"A que se apega esta vossa credulidade de sete… e hoje mais catorze… vinte e un anos?", pergunta D. Madalena a Telmo (Acto I, cena II).
"Vivemos seguros, em paz e felizes… há catorze anos" (1, cena II).
"Faz hoje anos que… que casei a primeira vez, faz anos que se perdeu el-rei D. Sebastião, e faz anos também que… vi pela primeira vez a Manuel de Sousa", afirma D. Madalena (II. cena X).
"Morei lá vinte anos cumpridos" (…) "faz hoje um ano… quando me libertaram", diz o Romeiro (II. cena XIV).

Maria de Noronha


Maria de Noronha – Filha de D. Madalena e D. João;
amor filial, curiosidade;
sonho, fantasia, idealismo, filha fatal, adolescente fantasista, sebastianista por influência de Telmo, adivinhava " lia nos olhos e nas estrelas ";
sempre febril, cresceu de repente, criança precoce; gosto pela aventura, frágil, alta, magra, faces rosadas, patriota, intuitiva, inteligente.
Personagem de Frei Luís de Sousa (1843) de Almeida Garrett.
Fruto da união entre D. Manuel de Sousa Coutinho e D. Madalena de Vilhena, é uma criança bondosa e sensível, extremamente intuitiva, que junta ao idealismo um alto sentimento patriótico. Até à catástrofe, consubstanciada no regresso de D. João de Portugal, os seus pressentimentos contribuem para acumular indícios e adensar o clima trágico.
No final, quando ambos os pais tomam o hábito, Maria morre "de vergonha".
Segundo uma linha de leitura tradicional do drama, que tende a ver na acção e nas personagens reflexos das vivências do autor, a figura de Maria seria uma projecção de Maria Adelaide, filha natural de Garrett e Adelaide Deville.

D. Madalena de Vilhena - Frei Luís de Sousa



“Em tudo o mais sou mulher, muito mulher.”

Esta afirmação de Madalena é uma exacta auto-caracterização de uma personagem romântica. Na realidade, D. Madalena foi sempre dominada pelo sentimento do amor. Religiosa, sim, mas não compreendia que o amor de Deus pudesse exigir o sacrifício do amor humano. Amava a filha, sim, mas o amor de mulher (para com Manuel de Sousa) era superior ao amor de mãe. Senhora virtuosa, como convinha à sua dignidade social, mas essa virtude oscilava entre a realidade e a aparência (amou o segundo marido ainda quando vivia com o primeiro).

Uma mulher bem nascida, da família e sangue dos Vilhenas, cujos sentimentos dominam a razão:
sentimento do amor à Pátria é praticamente inexistente: considera a atitude dos governadores espanhóis como uma ofensa pessoal;

Para ela, é inaceitável que o sentimento do amor de Deus possa conduzir ao sacrifício do amor humano, não compreendendo, nem aceitando a atitude da condessa de Vimioso que abandonou o casamento para entrar em votos: isto explica que, até ao limite, tente dissuadir o marido da tomada do hábito, só se resignando quando tem a certeza de que ele já foi.

Apesar de se não duvidar do seu amor de mãe, é nela mais forte o amor de mulher, ao contrário do que acontece com Manuel de Sousa Coutinho, que se mostra muito mais preocupado com a filha do que com a mulher.

A consciência da sua condição social mantém a sua dignidade, mas tal não impediu de ter amado Manuel de Sousa ainda em vida de D. João de Portugal e de ter casado com aquele sem a prova material da morte deste.

Pecadora: o nome “Madalena” evoca a figura bíblica da pecadora com o mesmo nome.

Torturada pelo remorso do passado: não chega a viver o presente por impossibilidade de abandonar o passado.
Olá a todos.

Iniciamos a semana passada o estudo da obra de Almeida Garrett "Frei Luís de Sousa". Como tal, realizamos algumas pesquisas sobre a obra, as quais apresentamos neste blogue.